terça-feira, 25 de novembro de 2014

BLACK FRIDAY

   Uma das datas mais aguardadas do ano está chegando. Ela compete com o Natal e dia das mães, com a diferença de não ser preciso, necessariamente, lembrar de alguém especial nesta sexta-feira, a primeira após o dia de ação de graças. A data existe única e exclusivamente para aguçar o desejo de possuir aquelas coisas que não têm a menor utilidade, mas que se tornam indispensáveis devido aos preços de banana.
   No Brasil, desde 2010 um número cada vez maior de consumidores dispostos a gastar o seu dinheiro extra de final de ano, aguarda ansioso a contagem regressiva que dá início às megapromoções. Liberadas as compras, em poucos segundos tudo acaba. Clientes e lojas felizes!
Essa avidez por comprar algo que custa uma pechincha é reflexo de algumas características da sociedade contemporânea:
  • Do desejo inconsciente de tirar vantagem em tudo. Se por um lado o senso de coletividade parece estar aumentando, sobretudo entre os mais jovens, por outro parece que cada dia mais as pessoas se fecham em verdadeiras redomas de vidro. O que interessa é apenas o mundo próprio de cada um. Meu trabalho, minha felicidade, minha segurança, minha saúde, minha vida... Para eu pensar no outro preciso receber algum benefício em troca. A barganha começa no mundo econômico, mas se estende também para vida profissional, familiar e social, onde existem os laços afetivos. Aí está o grande problema: negociar afetos e sentimentos.
  • Do cotidiano atribulado. Se os dias passassem a ter 36 horas, para alguns aficionados por trabalho elas ainda seriam insuficientes para concluir o cronograma elaborado. Existem pessoas que não conseguem se desligar de seus compromissos profissionais sequer por 10 minutos ao longo do dia. São os famosos workaholics. Já para aqueles que não são tão apaixonados pelo trabalho, existe uma lista sem fim de atividades a fazer durante o dia, motivadas pela televisão, pela internet ou pelos amigos mais próximos, preocupados em dizer o quão importante é ter algo para fazer (qualquer coisa mesmo). O importante é preencher os dias com aquelas coisas que dão prazer. Se o prazer for não fazer nada, que assim seja.
  • Da falta de sentido existencial. Quando valores nobres e causas humanitárias não preenchem uma vida, ela passa a ser ocupada por coisas. Mas coisas não satisfazem a busca por um sentido de vida. E o problema vai além quando se percebe que alguns não sabem exatamente o que buscar: não buscam algo que dê sentido à vida, mas a satisfação de algumas vontades passageiras. Compra-se. Simplesmente. Mesmo sem necessidade. Pensam que aquele objeto específico vai aquietar a angústia que têm dentro de si e que não conseguem explicar.

   Para concluir, vale ressaltar uma coisa aos que gostam de sempre tirar vantagem: algumas pessoas utilizam o termo Black Friday Fraude para indicar a maquiagem de preços realizada por algumas empresas. O lojista sobe arbitrariamente o preço do produto dias antes do Black Friday, pois dessa forma ele pode dar um mega desconto no produto, e o consumidor acreditará estar levando vantagem. Será por isto sexta-feira Negra?

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