Pular para o conteúdo principal

BLACK FRIDAY

   Uma das datas mais aguardadas do ano está chegando. Ela compete com o Natal e dia das mães, com a diferença de não ser preciso, necessariamente, lembrar de alguém especial nesta sexta-feira, a primeira após o dia de ação de graças. A data existe única e exclusivamente para aguçar o desejo de possuir aquelas coisas que não têm a menor utilidade, mas que se tornam indispensáveis devido aos preços de banana.
   No Brasil, desde 2010 um número cada vez maior de consumidores dispostos a gastar o seu dinheiro extra de final de ano, aguarda ansioso a contagem regressiva que dá início às megapromoções. Liberadas as compras, em poucos segundos tudo acaba. Clientes e lojas felizes!
Essa avidez por comprar algo que custa uma pechincha é reflexo de algumas características da sociedade contemporânea:
  • Do desejo inconsciente de tirar vantagem em tudo. Se por um lado o senso de coletividade parece estar aumentando, sobretudo entre os mais jovens, por outro parece que cada dia mais as pessoas se fecham em verdadeiras redomas de vidro. O que interessa é apenas o mundo próprio de cada um. Meu trabalho, minha felicidade, minha segurança, minha saúde, minha vida... Para eu pensar no outro preciso receber algum benefício em troca. A barganha começa no mundo econômico, mas se estende também para vida profissional, familiar e social, onde existem os laços afetivos. Aí está o grande problema: negociar afetos e sentimentos.
  • Do cotidiano atribulado. Se os dias passassem a ter 36 horas, para alguns aficionados por trabalho elas ainda seriam insuficientes para concluir o cronograma elaborado. Existem pessoas que não conseguem se desligar de seus compromissos profissionais sequer por 10 minutos ao longo do dia. São os famosos workaholics. Já para aqueles que não são tão apaixonados pelo trabalho, existe uma lista sem fim de atividades a fazer durante o dia, motivadas pela televisão, pela internet ou pelos amigos mais próximos, preocupados em dizer o quão importante é ter algo para fazer (qualquer coisa mesmo). O importante é preencher os dias com aquelas coisas que dão prazer. Se o prazer for não fazer nada, que assim seja.
  • Da falta de sentido existencial. Quando valores nobres e causas humanitárias não preenchem uma vida, ela passa a ser ocupada por coisas. Mas coisas não satisfazem a busca por um sentido de vida. E o problema vai além quando se percebe que alguns não sabem exatamente o que buscar: não buscam algo que dê sentido à vida, mas a satisfação de algumas vontades passageiras. Compra-se. Simplesmente. Mesmo sem necessidade. Pensam que aquele objeto específico vai aquietar a angústia que têm dentro de si e que não conseguem explicar.

   Para concluir, vale ressaltar uma coisa aos que gostam de sempre tirar vantagem: algumas pessoas utilizam o termo Black Friday Fraude para indicar a maquiagem de preços realizada por algumas empresas. O lojista sobe arbitrariamente o preço do produto dias antes do Black Friday, pois dessa forma ele pode dar um mega desconto no produto, e o consumidor acreditará estar levando vantagem. Será por isto sexta-feira Negra?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O INÍCIO DE CADA ANO (Projeto de vida)

O início de cada ano é sempre data propícia para organizar a vida. Em todos os seus aspectos: família, trabalho, sonhos, relacionamentos. A ideia de recomeço traz consigo a sensação prazerosa de esperança e de felicidade, assim como sentimos ao ver um recém-nascido. Uma vida nova é sempre promessa de bondade, pois toda pessoa carrega em si o dom da bondade. Mais: a bondade só se realiza através dos seres humanos. Falei em ideia e sensação, todavia trata-se de uma oportunidade bem real: o inicio de um novo ano é o momento para se pensar na realização de coisas boas, aproveitando que todo o nosso ser se encontra aberto para a vida, para o recomeço. Para tornar real o que pensamos é preciso primeiro a audácia para assumir que podemos tudo. Depois, ter claro um projeto de vida, com ênfase na clareza e não tanto no projeto, desde que ele envolva verdadeiramente a própria vida. Todo projeto de vida se inicia de um jeito simples: perguntando a si mesmo “O que eu quero este ano?”. O que eu que...

O BOM PROFISSIONAL

Estive pensando no que escrever sobre ele e descobri que, antes de tudo, preciso assumir uma postura: ou eu escrevo como patrão ou como empregado. As duas visões são sempre diferentes. Pois bem, patrão eu nunca fui, logo fica muito fácil escrever a partir da ótica do empregado que sou. Tenho três parâmetros que me permitem falar sobre profissionalismo: a postura que eu mesmo mantenho no meu trabalho; as ações que eu observo nos profissionais que trabalham comigo e o referencial teórico encontrado em pesquisas diversas. Este último geralmente é elaborado a partir da ótica de chefes e não tanto de empregados. Uma empresa, ou um chefe, para afirmar que é neutra na relação chefia-empregados precisa ter uma visão bastante moderna desta relação. Confesso que não me recordo de um exemplo para citar no momento. Em geral os empregados têm a visão de que um bom profissional é aquele que cumpre os horários, não falta com freqüência e cumpre as metas propostas pela empresa. A empresa e o...

SURPRESA E BUSCA

  O que possibilita mudanças verdadeiras em nossas vidas é qualquer experiência ou situação que, a princípio causando uma espécie de assombro, aos poucos passa a significar um questionamento fundamental e profundo, exigindo uma resposta sensata e razoável. Cedo ou tarde, chegará (ou já chegou) um momento em que deixaremos de lado as coisas banais e supérfluas para avançarmos na busca da essência das coisas, principalmente de nós mesmos. Essa questão aparece sempre confusamente: “não sei dizer quem eu sou, de onde vim, para onde vou ou por que existo”. Não saber as respostas para tais perguntas não importa tanto assim. Basta tomarmos consciência delas e aprimorar o próprio pensamento, a fim de conduzirmos nossos próprios atos.   Heidegger, um famoso filósofo, dizia que existem três situações que levam a pessoa a pensar sobre si mesma e a buscar o sentido das coisas: o desespero de quando se obscurece o sentido das coisas, a alegria da alma num momento de felicidade e a monot...