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HÁ MOMENTOS

na vida em que a vida inteira parece não ter sentido algum. Deparei-me com um desses momentos ontem. Foi um encontro. Um encontro casual, o qual não realizaria se tivesse escolha.
Vínhamos de direções opostas e de longe o avistei: jovem, sem rumo, desesperado. Por incrível que pareça, não o conhecia. Por um instante preferi não tê-lo percebido, mas sua angústia me fez refém e fui obrigado a ir ao seu encontro. Eu tentei, mas não trocamos palavras; seus pensamentos estavam em algum lugar que imaginei muito sofrido e distante. Ele não respondia a nada que lhe perguntava. Mesmo assim nos entendemos. Percebi logo que a morte de seu pai era um momento para o qual ele não estava preparado. Foi aí que as palavras faltaram também a mim. Será que alguém está preparado para a perda de uma pessoa tão significativa? Será que existe alguma forma de preparação?
Levanteio-o e o entreguei a quem veio buscá-lo. Continuamos todos na mesma direção. Eu, apenas observando seus passos arrastados. Não fosse os ombros e braços daquele que veio ao seu encontro, não teria ele condições de chegar a casa.
Da janela da minha casa eu via a sua. Todos os dias. No entanto, foi necessário um dos piores dias de sua vida para nos conhecer. Não trocamos uma frase sequer, porém jamais o esquecerei. Mesmo porque agora sei onde mora e posso ir ao seu encontro.

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